A jornalista baiana Rafaela Fleur, que nos últimos dias foi acusada de ser uma mulher branca tentando se passar por negra, se pronunciou pela primeira vez na noite desta segunda-feira (1). No final da última semana, os questionamentos sobre a raça da jornalista vieram à tona após alguns internautas compararem fotos antigas e novas que ela publicou no Instagram.
No vídeo, de 12 minutos, publicado no Instagram, Rafaela rebate as críticas e fala sobre sua infância, adolescência e o processo para se reconhecer como uma mulher negra.
“Eu vim aqui para falar das denúncias que aconteceram nos últimos dias de que eu era uma mulher branca tentando me passar por uma mulher negra, que eu era afroconveniente, que eu tava fazendo blackfacing, blackfishing”, começou ela.
Em seguida, Fleur começou comentando que é a pessoa com a cor de pele mais clara da sua família e por muito tempo considerou isso sorte. “Com 16 eu comecei a me relacionar, comecei a sair, e nesta época eu conheci meu primeiro namorado, que era um homem negro, porém um homem negro que gostava de mulheres brancas e ruivas. Ele gostava muito de ruivas, falava que gostava da pele pálida e tal”, confidenciou.
Ela contou que foi neste momento que ela começou a criar estratégias para parecer mais branca. “Salvador é uma cidade muito quente, eu saia toda montada para não pegar sol e também porque eu me achava estilosa, gostava de me vestir daquele jeito. O que também virou motivo de chacota na faculdade, as pessoas tiravam foto minha compartilhavam entre si para falar que eu era ridícula e fazer chacota”, prosseguiu.
“Muita gente falou assim: ‘Nossa você editou todas as suas fotos então? Isso é impossível, gente não é impossível. É só você pegar a foto, aumentar o brilho bastante, diminuir a saturação. Á noite só tirar foto com o flash estourando na cara, aí para completar a edição, além dos filtros com o tom mais frio para ficar mais azulado, mais branco, eu pegava aquela função de branquear dente e passava no rosto, passava na pele para ficar bem branca”, prosseguiu.
Depois de falar sobre seu processo de embranquecimento, Rafaela explicou quando foi o momento que ela passou a se reconhecer como uma mulher negra. “Eu sempre estava sendo lembrada aqui e ali que eu não era branca. Mais nova eu sofri racismo sim no colégio. Já ouvi de um professor na frente da sala toda que a minha pele era encardida, que eu não era nem branca nem negra, eu era encardida”, apontou.
Segundo ela, sua situação começou a melhorar quando ela se mudou para São Paulo, a partir do momento que ela começou a acessar alguns espaços de luxo e fazer amizades com pessoas negras que estava o tempo todo incluindo ela em conversas sobre questões raciais.
“Até que chegou o momento que eu realmente comecei a me questionar certas coisas, comecei a me questionar do meu cabelo, da minha lente, a situação da lente estava ficando insustentável, eu não aguentava mais perder tanto tempo para editar uma foto. Aí eu comecei meu processo identitário, comecei a me questionar várias coisas, e falava assim: ‘Ue, meu pai é negro, minha mãe é negra, meus irmãos são negros, mas eu não né?’”, alegou.
“E aí pensando que esta situação estava estranha fui entrando em um processo que ele está acontecendo até hoje, ainda não terminou, e por ser um processo tão íntimo e já tão doloroso para mim, porque eu precisei revisitar muita coisa, revisitar muitas violências”.
No fim, ela revelou que não imaginou que teria que compartilhar seu relato, e que esperava poder viver isso de forma particular.
Nos comentários da publicação, vários famosos se sensibilizam e prestam apoio a jornalista. “São tantas dores, tantas violências! Que seja possível realinhar todas as questões! Muita gente adoecida, adoecendo outras pessoas!”, escreveu Tia Má. “Todo meu afeto e carinho por vc Rafa. Fique bem”, apoiou Rafael Zulu.
“Sinto muito por você ter passado por isso. Quando atravessei meu processo de letramento racial também tive muita gente questionando até onde eu era negro. E nisso, somos violentados por quem a princípio deveria entender toda essa desnaturalização. Mas acredite: estamos falando de movimentos adolescentes se comparados a uma estrutura que está aí nos predando a 500 anos. Que você consiga fazer do limão uma limonada e que essa história gere um debate mais sadio daqui pra frente. Fica bem!”, declarou Thiago Dude.