Com 3.363 focos de calor detectados pelos satélites desde 1º de janeiro até ontem (29), a Bahia registra um aumento de 8% sobre os números do mesmo período no ano passado, quando mais de 500 mil hectares foram atingidos pelo fogo, segundo indicações da plataforma de Monitoramento do Fogo do Mapbiomas.
Os dados do Programa de Monitoramento de Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) indicam que no território baiano os biomas mais atingidos este ano são o cerrado, com mais de 50% dos focos, a caatinga com mais de 27% e a mata atlântica, com mais de 21%.
Com diferentes sinalizações para o estado, o sistema Alert-AS do Centro Virtual para avisos de eventos meteorológicos severos para o sul da América do Sul, indica que a maior parte do território está com alerta amarelo para vendaval e baixa umidade do ar (entre 20% e 30%), enquanto o ideal é em torno de 60%. Nos últimos dias têm vigorado também entre o Norte e Oeste do estado o alerta laranja, indicando umidade entre 12% e 20%, com mais risco à saúde e incêndios florestais.
O contexto favorece a propagação dos incêndios, mobilizando brigadistas voluntários das localidades atingidas e 224 bombeiros militares especializados, atuando com cinco bases no estado. Os principais esforços estão concentrados em Riachão das Neves, Muquém de São Francisco, Casa Nova, Wagner, Paratinga, Rio de Contas, Luís Eduardo Magalhães e Juazeiro.
A tendência de crescimento dos incêndios florestais não se restringe à Bahia e, conforme o Programa de Queimadas/Inpe, o país teve um aumento de 80% este ano em relação a 2023, passando de 62.355 para 115.944 focos até ontem. No Brasil a maior concentração está no bioma amazônico, com 56.053 focos, seguido do cerrado com 36.683 e da mata atlântica com 11.084 focos.
Para efetivar o combate, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) também está reforçando as equipes do Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo). Em todo Brasil foram contratados 2.227 brigadistas este ano, com previsão de novos contratos. Destes, 102 foram destacados para atuar na Bahia.
No território baiano a situação mais crítica está na região Oeste, onde 32 municípios tiveram as Declarações de Queima Controlada (DQCs) suspensas entre 13 de agosto e 30 de novembro deste ano. No estado são 178 municípios atingidos pela medida em 10 regiões, que estão com as DQCs suspensas, inclusive as que foram fornecidas anteriormente pelos órgãos ambientais.
Esta foi uma das iniciativas adotadas através do Programa Bahia Sem Fogo para reduzir os casos de incêndios, considerando que neste período do ano, depois de quase meio ano sem chuvas, altas temperaturas e ventos fortes, o fogo sai facilmente do controle e se espalha pela vegetação ressecada, dificultando o combate.
“Nas últimas semanas a atuação de uma massa de ar quente e seco sobre a Bahia tem contribuído para a redução da umidade relativa do ar, sobretudo no Centro-Oeste baiano, onde algumas localidades chegam a índices abaixo de 15%, principalmente no período da tarde, bem como eleva a temperatura, acima de 35º (graus celsius) e 36º”, afirmou o meteorologista do Inema, Aldírio Almeida.
Ele alertou que nestas regiões “a condição deve perdurar pelo menos todo mês de setembro, que será um mês bastante seco”, enfatizou Almeida, destacando que a temperatura ainda deve subir “com máximas até início de outubro, atingindo 40º em algumas localidades, com umidade bastante reduzida”.
Chuvinha do Caju
Nuvens e chuvas esparsas sobre algumas localidades da região Oeste na manhã de ontem (29) contribuíram para um aumento pontual da umidade do ar e proporcionaram um leve conforto térmico. A chuva deste período é tradicional e chega antes da época do caju, mas não extingue a estiagem que deverá se estender por mais de um mês.
A aproximação do período mais crítico do ano para queimadas na região Oeste motivou uma reunião esta semana entre produtores rurais, associações de classe e representantes de órgãos estaduais. Realizado em São Desidério, o encontro debateu a proposta de ampliar o trabalho conjunto para reduzir a incidência do fogo e seus prejuízos. O município e Formosa do Rio Preto estão entre os dez que mais tiveram focos de incêndios entre 1985 e 2023 no Brasil, ocupando respectivamente o sexto e terceiro lugares.
Conforme o comandante do 17º Batalhão de Bombeiros Militar de Barreiras, tenente-coronel BM Leonardo Cedraz, a união de esforços para prevenir e debelar incêndios florestais é importante para a região. Ele pontuou que “entre 95% a 99% dos incêndios são causados por ação humana e é possível evitar, trabalhando sempre com a sensibilização das pessoas”.
Criado em 2010 para atuar na prevenção e combate aos incêndios, o programa BSF é coordenado pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema). O órgão integra e coordena o Comitê Estadual de Prevenção e Combate a Incêndios Florestais da Bahia, formado por representantes de diferentes instituições do estado. O fortalecimento das brigadas de incêndio, aquisição de equipamentos, locação de aeronaves e as parcerias interinstitucionais estão entre as principais ações neste período.
Entre as atuações preventivas, o programa realizou este ano três etapas do BFS, alcançando as regiões Oeste, Norte e Chapada Diamantina. A caravana, formada por agentes da Defesa Civil, Corpo de Bombeiros e outros órgãos vem participando de ações de sensibilização e educação ambiental, agindo para evitar que as queimadas aconteçam, focando na preservação da natureza e qualidade de vida da população.
Municípios com maior incidência dos focos de calor este ano, até 29.08.24
1. São Desidério – 315 focos
2. Formosa do Rio Preto – 230 focos
3. Cocos – 202 focos
4. Santa Rita de Cássia – 167 focos
5. Xique-Xique – 166 focos
6. Correntina – 127 focos
7. Jaborandi – 127 focos
8. Barreiras – 98 focos
9. Riachão das Neves – 81 focos
10. Muquém do São Francisco – 75 focos
(Fonte Inema com dados do Inpe)
Unidades de proteção
Até ontem a maior incidência entre as Unidades de Conservação foi registrada na Área de Proteção Ambiental (Apa) do Rio Preto, no Oeste, com 46,2 % dos focos, seguida da Apa Caminhos Ecológicos da Boa Esperança, no Sudoeste, com 12,7%. A Apa Bacia do Rio de Janeiro, no Oeste, teve 10,6% dos focos, seguida da Apa Dunas e Veredas do Baixo Médio São Francisco, no Oeste, 10,2% dos focos.