Violência contra mulheres cresce em 2023 no Brasil, apesar de queda nos assassinatos em geral

O Brasil registrou aumento significativo nos casos de violência contra mulheres em 2023, conforme revela o Atlas da Violência 2025, elaborado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Enquanto os homicídios de mulheres permaneceram praticamente estagnados, as notificações de agressões dispararam, ultrapassando 275 mil registros, frente a 221 mil em 2022 — um crescimento de cerca de 24%.

A taxa de homicídios femininos se manteve em 3,5 mortes por 100 mil habitantes nos dois anos analisados. Foram 3.903 mulheres assassinadas em 2023, contra 3.806 em 2022, o que representa um pequeno aumento de 2,5%.

A violência começa em casa

Mais de 60% dos casos de violência ocorreram dentro do ambiente doméstico. As notificações foram classificadas da seguinte forma:

  • Violência doméstica: 177.086 casos
  • Violência comunitária: 59.611
  • Violência mista: 34.653
  • Violência institucional: 3.925

Todos esses tipos apresentaram crescimento em relação ao ano anterior.

Tipos de violência mais registrados:

  • Física: 37,4%
  • Múltipla (mais de um tipo): 30,3%
  • Negligência: 12%
  • Psicológica: 10,1%
  • Sexual: 9,5%

A prevalência de certos tipos de violência varia com a idade da vítima. Crianças pequenas sofrem mais com negligência, enquanto meninas entre 10 e 14 anos são as principais vítimas de abuso sexual. A partir dos 20 anos, a violência física se torna predominante.

Feminicídio: o desfecho de uma espiral

Para a pesquisadora Manoela Miklos, o feminicídio é o último estágio de uma longa trajetória de abusos. “É fundamental oferecer suporte psicológico, jurídico e econômico desde os primeiros sinais, evitando que a violência escale ao ponto da morte”, defende. Segundo ela, políticas públicas de segurança precisam ser específicas para mulheres, dada a natureza distinta desses crimes em comparação aos homicídios de homens.

As mais atingidas: mulheres negras

O recorte racial revela uma face ainda mais alarmante: 68,2% das vítimas de homicídios eram mulheres negras (2.662 mortes). O relatório afirma que os dados refletem “o trágico encontro entre a cultura patriarcal e o racismo estrutural, ambos fortemente enraizados no Brasil”.

Roraima lidera ranking nacional de homicídios femininos

O estado de Roraima registrou a maior taxa de homicídios femininos: 10,4 por 100 mil habitantes, quase três vezes acima da média nacional. A presença do garimpo e de conflitos territoriais pode estar entre os fatores que explicam a alta, conforme aponta o relatório.

Veja a seguir as 5 maiores taxas estaduais em 2023:

  1. Roraima (RR) – 10,4
  2. Amazonas (AM) – 5,9
  3. Bahia (BA) – 5,9
  4. Rondônia (RO) – 5,9
  5. Mato Grosso (MT) – 5,7

O caminho para a mudança

O relatório reforça a urgência de políticas públicas focadas na autonomia econômica das vítimasacolhimento psicológico e acesso facilitado à justiça e serviços de saúde. Também sugere a análise regional dos dados para entender os fatores específicos que impulsionam a violência em diferentes partes do país.