Técnico português nega ter chamado jogadora de ‘macaca’: ‘Uma injustiça tremenda’

O técnico português, Hugo Miguel Duarte Macedo, 44 anos, preso em flagrante por injúria racial na última segunda-feira (8) por suspeita de chamar uma das jogadoras do time feminino do Bahia de ‘macaca’, negou ter proferido a ofensa contra a atleta. Em entrevista ao jornal Record de Portugal, o profissional contou ainda sobre o período em que ficou preso.

Segundo a versão dada por Hugo, após iniciada uma discussão dentro do campo, ele teria tentado separar as suas jogadoras da confusão. “O meu intuito foi só retirá-las da confusão, tanto que tive várias palavras para as jogadoras do Bahia, pedindo-lhes apenas: ‘deixem-se disso e festejem, pois conseguiram o acesso à 1.ª Liga e estão de parabéns!’ E lembro-me perfeitamente: vejo uma jogadora delas a correr nas costas de uma atleta minha, puxo-a e digo exatamente as mesmas palavras… mas ela começa a responder com palavrões”, contou.

Segundo o técnico, outra jogadora do Bahia teria ido em sua direção pedir para largar a colega. “Eu simplesmente disse-lhes: tenham calma, só estou a separar-vos e vocês são muito mal educadas. Foram as minhas únicas palavras para as jogadoras do Bahia”, alegou.

“Quando já estava no vestiário, a polícia vem para me identificar, diz que estou detido e tenho de ser encaminhado para a Delegacia. Só aí é que soube que fui acusado de racismo. Uma injustiça tremenda”.

Hugo contou que passou quatro dias na prisão e criticou as condições do cárcere. “Foram quatro dias praticamente sem comer, só comia pão seco com café. Não dormi, não tomei banho, não escovei os dentes, tiraram-me os tênis e eu estava dentro de uma cela imunda, vou dizer mesmo nojenta, com um cheiro horrível. Num espaço de 5 por 2, chegamos a ter 9 reclusos. Eu temi muito pela minha vida, porque alguns sabiam que eu estava ali acusado de racismo e nós sabemos que 80% dos prisioneiros que lá estavam eram negros. Foi muito duro.”

“Tenho de ficar no Brasil por um ano, mas eu vou recorrer e a minha família também aí em Portugal. Isto vai ter de chegar à política, pois vou ter que ter apoio. E não tive o apoio de nenhum político português, nem do Consulado nem da Embaixada”, acrescentou.

Relembre o caso

O caso aconteceu após o fim da partida que garantiu o acesso do tricolor a primeira divisão do Brasileirão Feminino, no Estádio de Pituaçu. O treinador foi preso em flagrante por injúria racial e encaminhado para o Central de Flagrantes, no Complexo dos Barris. Ele passou por audiência de custódia nesta última quarta-feira (10) e foi liberado, sob pagamento de fiança.

Na entrevista, o técnico revela que precisou pagar o equivalente a 30 salários mínimos, cerca de R$ 42 mil. “A minha sorte foi haver uma onda solidária em Portugal, entre os meus amigos, que me conseguiram pagar a fiança.”

A decisão determina que o técnico do JC Futebol Clube deve seguir algumas medidas cautelares, incluindo não se aproximar da vítima, a zagueira Suelen Santos, mantendo distância mínima de 200 metros, e nem tentar entrar em contato com ela ou familiares dela.

Em nota, o JC Futebol Clube, do Amazonas, disse que ‘repudia qualquer ato de racismo’ e que o jurídico analisaria se as informações para realizar os procedimentos para que ‘não haja informações infame ou caluniosas que prejudiquem quaisquer que sejam os envolvidos’.