As manifestações realizadas por mulheres de forma espontânea em todo o Brasil foram cuciais para o recuo do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), em relação ao PL do Estupro, apontam parlamentares baianos que integram o núcleo mais próximo a ele no chamado centrão. Em encontro recente com aliados, Lira sinalizou temor com o eventual crescimento da onda de protestos de rua já registrados em nove capitais do país, sobretudo no Rio de Janeiro e São Paulo, onde milhares de manifestantes ocuparam duas faixas da Avenida Paulista no último domingo para exigir o arquivamento da proposta. Segundo um dos participantes da reunião, o presidente da Câmara admitiu também que errou ao minimizar o tamanho das reações negativas e avaliou que o apoio pessoal ao projeto de lei lhe causou desgastes acima do previsto.
Recordar é sobreviver
“Os deputados mais próximos a Lira alertaram sobre os riscos de manter o PL na pauta diante da mobilização crescente das mulheres. Lembraram que (a ex-presidente) Dilma Rousseff ignorou o alcance das manifestações de rua de junho de 2013 e acabou pavimentando o caminho para a série de protestos a favor do impeachment em 2015 e 2016. Lira sentiu que pode ser enforcado se continuar esticando a corda”, confidenciou um parlamentar da Bahia que faz parte do centrão e integra a tropa do alagoano na Câmara.
Só na multidão
Durante o encontro, Arthur Lira se queixou da postura de líderes da bancada evangélica diante da enxurrada de críticas ao projeto. Disse que topou comprar a briga deles para colocar a proposta na ordem do dia, mas acabou assumindo sozinho os desgastes. Aos aliados, o presidente da Câmara revelou incômodo com a ofensiva das mulheres. Sobretudo, a tática de associá-lo aos defensores do estupro, tanto nas manifestações de rua quanto nas redes sociais, e adiantou que não está mais disposto a arcar com tamanho ônus em nome dos parlamentares evangélicos.
Gol contra
“Na verdade, Lira foi surpreendido pela mobilização contra a proposta. Acha que deu munição para o Planalto no duelo pelo poder no Congresso. Esperava também que a militância da extrema-direita e o eleitorado conservador se unissem em peso para defender o PL. O que não ocorreu. A guerrilha de esquerda acabou dominando a arena, e ele se viu atirado às feras. E o pior é que os protestos tendem a continuar até que o projeto seja enterrado. Talvez de nada adiante suspender a tramitação da matéria na expectativa de que o movimento esfrie”, avalia outro deputado presente à reunião.
Bateu, levou!
Pré-candidato do MDB ao comando do Palácio Thomé de Souza, o vice-governador Geraldo Jr. tem dito a interlocutores que não está interessado em transformar o cabo de guerra com o prefeito Bruno Reis (União Brasil) em batalha campal, mas subirá ao ringue cada vez que for chamado. Prova disso foi o troco dado pelo emedebista na terça-feira (25), após o adversário acusá-lo de ignorar a sabatina realizada pela Folha de S.Paulo com os concorrentes à prefeitura da capital, enquanto fica “perambulando pela cidade, cortando o cabelo e indo para festa”. “O prefeito acha que é dono de Salvador e está preocupado porque tenho visitado bairros e comunidades para ouvir as pessoas”, rebateu Geraldo Jr.
Adeus, Gilmarlândia
A repercussão negativa sobre a ida de ministros do governo Lula (PT) para o 12º Fórum Jurídico de Lisboa fez com que o chefe da Casa Civil, Rui Costa, desistisse de participar do evento organizado pelo decano do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes. Apelidado jocosamente de Gilmarlândia, Gilmarpalooza ou Gilmar Fest, o fórum realizado em Portugal há mais de uma década entrou na mira da imprensa por causa da presença numerosa de lobistas e empresários com demandas junto aos altos escalões do Judiciário brasileiro. Pelo sim, pelo não, Rui preferiu manter distância regulamentar da confraria de Gilmar.