As recentes demonstrações de insatisfação de parlamentares com o governo Lula (PT) têm provocado duros embates entre integrantes da equipe do presidente.
Colaboradores diretos do petista atribuem a atual desarticulação no Congresso ao desprezo de ministros a acordos selados com deputados e senadores.
No núcleo do governo, as dificuldades no Legislativo têm sido debitadas nas contas de ministros que se recusam a abrir espaço aos recém-agregados, especialmente os do centrão.
As queixas não se restringem ao descumprimento de ordens para nomeações e liberação de recursos, mas incluem disponibilização de agendas e até patrocínio para realização de festas juninas.
Alertado por ministros da cozinha palaciana, Lula determinou o cumprimento dessas orientações sob pena de serem exonerados. Segundo aliados do presidente, mantido o problema, ele deverá advertir sua equipe na próxima reunião ministerial.
Nos últimos dias, após a ameaça da Câmara de derrubar a MP (medida provisória) que reestruturou a Esplanada dos Ministérios, a articulação política do Planalto tem feito apelos para que as solicitações dos congressistas sejam atendidas.
O ministro Alexandre Padilha (Secretaria de Relações Institucionais), que trata das negociações políticas com o Legislativo, promoveu uma série de reuniões com outros ministros para identificar os entraves.
Uma das conversas mais duras ocorreu, segundo relatos, com Esther Dweck, da pasta de Gestão e Inovação em Serviços Públicos. A ministra impôs resistência à nomeação de indicados para as filiais da SPU (Secretaria do Patrimônio da União), reservada, por exemplo, a afilhados de políticos da União Brasil.
Até a semana passada, as secretarias vinham sendo chefiadas por interinos, o que fomentou uma discussão entre ela e Padilha.
Da mesma forma, havia resistência da ministra em ceder alguns espaços na Funpresp (Fundação de Previdência Complementar do Servidor da União). Após a reunião com Padilha, porém, ficou acordado que o órgão deve ficar com uma pessoa apontada pelo Podemos.
Esther concordou ainda em liberar as designações, e uma série de nomeações deve ser publicada nos próximos dias.
Também na última semana, o ministro se reuniu com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e o presidente do Ibama, Agostinho Mendonça, que resistia à nomeação de apadrinhados políticos no instituto.
Mas, segundo integrantes do governo, a própria Marina atuou para convencer Agostinho a cumprir os acordos.
Deputados e senadores reclamam ainda de dificuldades no Ministério da Cultura. Contam que pedidos de patrocínio para festas juninas foram negados sob argumento de falta de tempo hábil para execução, tendo recorrido à Caixa. No banco, o tempo para liberação pode consumir 40 dias.
No Ministério da Educação, até petistas têm se queixado da relutância do ministro em aceitar indicações de seus companheiros de partidos. Cobrado, Camilo Santana afirmou ter recebido carta branca de Lula para montagem de sua equipe direta.
Outra fonte de dificuldades está no Ministério da Saúde, alvo de cobiça inclusive do PP. Petistas reclamam que a ministra Nísia Trindade definiu as nomeações no ministério sem consultar os demais partidos e até mesmo os pares.
Parlamentares dizem que o sonho de consumo do PP é comandar a pasta da Saúde como um todo.
Outro petista que tem sido criticado por seus pares é Paulo Teixeira, do Desenvolvimento Agrário. Sobre ele, repousam as mesmas críticas de não cumprimento de acordos para nomear aliados de partidos do centrão e do próprio PT. Teixeira tem recebido críticas de correligionários de São Paulo.
Para aplacar resistências, Padilha se reuniu ainda com a presidente do Banco do Brasil, Tarciana Medeiros, e da Caixa Econômica Federal, Maria Rita Serrano.
Lula tem sido aconselhado a não tratar nenhum de seus ministérios como tabus nas negociações políticas —exceto aqueles considerados da cozinha do Planalto, como Secretaria de Relações Institucionais, Casa Civil e Fazenda.
A demora em liberar emendas impositivas e as verbas extras (que são parte do Orçamento dos ministérios, mas que vão ser apadrinhadas por deputados) também é uma reclamação inclusive de aliados do governo no Congresso e atinge todas as pastas.
Uma das principais queixas de parlamentares é que Padilha não teria tinta na caneta para fazer valer os acordos que articula. Por essa razão, o próprio Lula disse, em reunião com aliados, que os pares precisavam cumprir as orientações do ministro.
O presidente entrou em campo pessoalmente na articulação política após correr o risco de ver derrotada a MP que redesenhou a Esplanada e ampliou de 23 para 37 o número de ministérios.
Por fim, a medida provisória foi aprovada no último dia 31 de maio após ameaça dos deputados de derrotarem a MP diante da insatisfação generalizada com a articulação política do Planalto.
Para tentar aplacar as insatisfações, Lula teve um encontro com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), na última segunda-feira (5), em que conversaram sobre os problemas da articulação. Na ocasião, o presidente se comprometeu a destravar os entraves.
Também admitiu fazer trocas nos ministérios que são ocupados por indicados da União Brasil como forma de contemplar melhor a Câmara e aumentar o número de votos.
Ainda assim, o clima com os deputados continuava tenso até o meio da semana passada. Tanto que o Planalto chegou a convidar líderes partidários para um encontro no Planalto, mas a reunião acabou não acontecendo, em parte, porque os parlamentares avaliavam ainda não haver clima.
Os deputados querem realizar os encontros quando o governo acelerar as nomeações e liberações de emendas que os interessam.
O esforço dos articuladores políticos ocorre porque integrantes do Palácio do Planalto sabem que não têm votos suficientes para aprovar medidas de interesse do governo sem a influência de Lira.
Segundo o presidente da Câmara e o próprio Lula, o Planalto tem asseguradas cerca de 130 de 513 cadeiras no plenário —embora a base com partidos que integram o governo seja maior.