O Instituto Sou da Paz apresentou mapeamento inédito sobre os números envolvendo ataques em escolas no Brasil. 25 ataques já foram registrados na história no país, que deixaram 139 vítimas: 46 fatais e 93 não fatais. Revólveres e pistolas foram usados em onze casos, contra dez com armas brancas, e os ataques a tiros geraram três vezes mais vítimas fatais do que as ocorrências com armas cortantes ou perfurantes.
Em média, os casos com arma branca tiveram uma vítima fatal e três não fatais, enquanto os com uso de arma de fogo resultaram em três vítimas fatais e cinco não fatais. Coincidência ou não, dois dos três casos de maior número de vítimas ocorreram a partir de 2019, o mesmo ano em que teve início a flexibilização do acesso às armas promovida pelo governo Bolsonaro.
O mapeamento aponta também que em 60% dos casos, as armas de fogo já estavam na residência do agressor e pertenciam ao pai, mãe ou a outro parente que residia na mesma casa. Em 40% dos casos, as armas de fogo eram de um servidor da área da segurança (policial, perito, guarda) e 20% foram subtraídas de seu proprietário legal e revendidas ou vendidas diretamente por ele.
O Instituto Sou da Paz traçou também o perfil dos agressores e verificou que na maior parte é composta por alunos e ex-alunos e em pelo menos 20 casos houve o planejamento por semanas ou meses. Este diagnóstico reforça que há um prazo hábil para que a comunidade escolar (funcionários, professores, alunos e pais) possa notar mudanças de comportamento ou até atos preparatórios e consiga tomar medidas para intervir precocemente e prevenir os ataques. Por isso, é necessário estruturar e preparar a comunidade escolar para identificar os sinais antes dos ataques e agir com eficácia.
“O estudo mostra que a disponibilidade de armas em residências favorece esse tipo de crime e aumenta a letalidade, colocando em evidência o quão crucial é o controle do acesso às armas para redução da letalidade destes eventos, já que outros tipos de ferimentos com armas brancas e armas de pressão são menos graves e têm mais chances de defesa, socorro e recuperação da vítima“, diz Carolina Ricardo, diretora-executiva do Instituto Sou da Paz.
Onde ocorreram os ataques
Treze unidades da federação tiveram ataques e somente o estado de São Paulo registrou mais do que dois. Na divisão entre cidades, apenas o Rio de Janeiro teve mais de um caso. Em termos regionais, o Sudeste, seguido por Nordeste e Sul, Centro-Oeste e a região Norte.
Recomendações
No estudo, o Instituto Sou da Paz traz algumas recomendações para a prevenção de novos casos com foco em diferentes atores, principalmente órgãos de segurança e educação, como:
– Corresponsabilização de plataformas digitais.
– Criação de equipes policiais treinadas em monitoramento de redes sociais com capacidade de realização de análise de risco, para triagem e atuação preventiva.
– Fortalecimento da ronda escolar, fortalecimento de vínculos entre a direção da escola e batalhões locais.
– Treinamento e estabelecimento de protocolo de ação para que policiais militares possam responder a estes eventos de modo a eliminar a ameaça mais rapidamente possível, preparar socorro e evacuação das vítimas.
– Estabelecimento de programas específicos para a saúde mental dos estudantes e de
mediação e justiça restaurativa nas escolas para lidar com conflitos e bullying, que devem ser conduzidos por profissionais dedicados a esta atividade, sem sobrecarregar professores com mais estas atribuições.
-Treinamento de professores e funcionários para que consigam identificar comportamentos que precisam despertar ações da comunidade escolar.
– Criar ações para instruir as pessoas a evitarem repassar boatos e mensagens sem procedência identificada, para evitar pânico.
– Endurecimento do controle e fiscalização da compra de armas de fogo e munições para restringir o acesso a instrumentos mais letais por parte dos agressores.
– Rever facilitações dadas para permissão de adolescentes (a partir de 14 anos) a clubes de tiro, ainda que acompanhados de um responsável.