O babalorixá Duda de Candola, do Terreiro Ilê Axé Icimimó Agunjí Didê, relatou nesta quinta-feira (14), o medo e o clima de tensão vividos pelos membros do terreiro. Segundo ele, funcionários de uma fábrica de celulose do Grupo Penha, que desde 2019 disputam as terras do templo religioso, estão fazendo “rondas” e monitoram as atividades do local.
O terreiro, que fica em Cachoeira, no Recôncavo baiano, foi criado em 1913 e é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Após um sofrido ataque de 2020, foi feito um acordo entre os religiosos e o grupo empresarial, junto ao Ministério Público da Bahia (MP-BA), para que os funcionários da empresa fossem proibidos de entrar na área, já que houve a destruição de objetos, profanação de locais sagrados e também o desmatamento do bambuzal. No entanto, segundo Pai Duda, a empresa vem descumprindo esses termos.
“Eles tinham se comprometido com o Ministério Público de não voltar mais a violar o patrimônio público, mas no dia 30 de agosto eu flagrei e filmei um funcionário fardado e com crachá rondando o perímetro do terreiro. Quando eu abordei e perguntei, se ele estava monitorando a mando da empresa, ele disse: ‘eu nunca deixei’”, informou o babalorixá.
Devido a essa situação, as celebrações abertas do terreiro estão suspensas e os religiosos comparecem apenas em dias estratégicos para cumprir com as obrigações internas da casa. “Recentemente, vimos o que aconteceu com Mãe Bernadete e hoje a gente vai no terreiro em dias e horários específicos e essa é uma das maiores torturas que estamos passando. Somos nascidos e criados dentro do terreiro e agora temos que ficar fora dele por medo, já que pedimos proteção a Ogum, mas não estamos no coração de ninguém”, afirmou.
A líder quilombola e ialorixá Mãe Bernadete foi assassinada a tiros no quilombo Pitanga dos Palmares, em Simões Filho, na Região metropolitana de Salvador, no dia 17 de agosto.