Adolescentes viciados em redes sociais: alerta para pais e risco de transtornos mentais

Irritabilidade, isolamento, ansiedade e desinteresse por atividades presenciais. Esses podem parecer apenas traços típicos da adolescência, mas também são sinais clássicos de um problema crescente: o vício em redes sociais. O que muitos pais consideram um hábito inofensivo pode estar comprometendo seriamente a saúde mental e o desenvolvimento emocional de seus filhos.

A psicoterapeuta e neurocientista Ana Chaves destaca que é essencial saber diferenciar o uso recreativo do uso problemático. “O vício aparece quando o adolescente perde o controle sobre o tempo que passa online e apresenta reações negativas quando é impedido de acessar as redes, como ansiedade, irritação e até agressividade”, explica.

Outro sinal de alerta é o uso secreto dos dispositivos, quando o jovem começa a esconder o tempo online da própria família. Segundo Chaves, isso pode indicar que ele mesmo já percebe um comportamento exagerado, mas não consegue se controlar.

Quando o prazer vira armadilha

A psicóloga Isabela Mota complementa que o excesso de redes sociais pode comprometer habilidades fundamentais para o futuro dos adolescentes. “Atenção, memória, tomada de decisão, planejamento e pensamento crítico — tudo isso pode ser afetado”, alerta. O ciclo vicioso de dopamina, neurotransmissor relacionado ao prazer, faz com que os jovens queiram repetir a sensação constantemente, criando uma dependência parecida com a de vícios em jogos de azar.

E o que torna tudo isso ainda mais perigoso? A sensação de fuga da realidade. “Nas redes, os adolescentes criam versões ideais de si mesmos. Isso é um alívio temporário, mas gera conflitos ainda maiores fora do mundo virtual”, analisa Mota.

O papel dos pais na prevenção

O controle não deve começar apenas quando o problema já está instaurado. A advogada e especialista em direito digital Alessandra Bulhões reforça: o diálogo é a chave. “Mesmo que a infância de pais e filhos seja muito diferente, é essencial entender a lógica do mundo digital para oferecer orientação segura”, afirma. Ela mesma, mãe de uma menina de 9 anos, acredita que educar digitalmente é ensinar sobre validação, autoestima e pertencimento sem depender das redes.

Chaves também destaca que simplesmente tirar o celular não resolve o problema — pode, inclusive, piorar. “Precisamos de adultos conscientes e empáticos. O celular é mais do que um passatempo: é parte do universo narrativo que molda a identidade do jovem”, ressalta.

E a legislação? Ainda está engatinhando

Apesar de existirem termos de uso nas plataformas, eles pouco protegem os adolescentes na prática. “As grandes empresas querem o vício. Não estão comprometidas com ética, mas com engajamento”, afirma Bulhões. Enquanto isso, a legislação brasileira ainda apresenta muitas lacunas para lidar com os efeitos nocivos do ambiente digital.

Limites, acolhimento e informação: o caminho para o equilíbrio

A recomendação dos especialistas é clara: estabelecer limites de tempo e horários, conversar abertamente com os filhos, observar mudanças de comportamento e, se necessário, buscar apoio profissional. A educação digital começa em casa — e quanto mais cedo, melhor.